Texto autoral por Dayana Molina. Não é permitido copiar ou reproduzir esse conteúdo sem a citação da autoria. Para contactar: molinastylist@gmail.com * Ainda na minha adolescência, me apaixonei pelos livros de antropologia. Aos 17 anos decidi cursar Ciências Sociais. Aos 19 eu deixei o sonho de ser uma cientista social, pelo caminho. Trabalhei com moda para me manter na universidade e isso me afastou de algo que eu amava. Descobri outra paixão muito cedo: a criatividade. Pensava que eram caminhos muitos opostos seguir fazendo duas coisas que pareciam tão diferentes. Além de obviamente, precisar trabalhar para me manter. Fui estudar produção de moda e direção de arte.
Viver integralmente de moda, me fez refletir que dava tempo de voltar naquele sonho antigo. E é impressionante como hoje tudo faz sentido, e não consigo me perceber apenas como design ou apenas como pensadora. Aos 32, estou no processo de conclusão da minha pós em sociologia trabalhando profissionalmente com moda. Totalmente conectada com a minha verdadeira essência, isso me alegra. Nossos processos não precisam ser como as pessoas esperam ou como nos cobram. Cada um vai viver algo em um tempo diferente. O importante é caminhar. Minha avó diz “caminha que a vida te encontra”. Sigo caminhando. Portanto, queria contar para a jovem Day que os processos pelo qual ela passou ao longo desses 12 anos, não foram em vão. E que ter deixado aquele curso de Ciências Sociais, não foi uma loucura. Eu fui embora daquele sonho. Mas a ciência humana foi norteando a minha percepção quanto criadora. No auge da minha pós, no processo de conclusão, acolho com carinho minhas reflexões. Me vi por muitos anos questionando a minha multipotencialidade. Quanto mais aprofundo a discussão sócio política em torno da moda, mais paixão sinto em criar. Esse viés social aguça a minha força criativa. Criar algo que faça sentido além da estética é possível? Eu penso que sim. O conjunto de características em construir sua identidade, implica em definir quem você é, quais seus valores e quais as direções deseja seguir pela vida. Entende-se que identidade é uma concepção de si mesmo, composta de valores, crenças e metas com os quais o indivíduo está solidamente comprometido. O conjunto de características que distingue uma pessoa ou uma coisa por meio das quais é possível individualizá-la. Isso justifica o fato que a minha quase desistência em integrar esse mercado, era a falta de me re-conhecer nesse espaço. Como os processos individuais refletem coletivamente? Como o trabalho produzido por um indivíduo pode fazer sentido para alguns e outros não? Identificações. Por meio da identidade, me enxergo além da individualidade. Dessa forma, vou tecendo, questionando, conscientizando e abrindo caminhos. Crises identitárias também acontecem por questões externas. Pela forma como algumas circustâncias podem refletir como você se enxerga. E quando você não se enxerga em lugar algum? Essa falta de representatividade gera um vazio sobre quem você é e onde seu corpo não está. O autoconhecimento é um processo importantíssimo na busca por sua identidade originária. Só nos conhecendo conseguimos nos (re) conectar com nós mesmos. Na nossa forma mais pura, já estávamos conectados. Mas o mundo nos tira algo até se tornar inviável viver sem essa reconexão com nós mesmos, nossa identidade e a natureza integrada. Comunicar através de imagens, pode produzir impactos positivos ou negativos. Quando se pensa sob a lente eurocêntrica em um país latino, esse lugar de verdadeiras referências, torna-se abismo. Mas quando se produz de forma mais consciente, isso pode libertar pessoas dessa necessidade de padrões inalcançáveis O designer pode apontar soluções reais para o futuro. E se o centro desse pensamento for o ser humano, isso se torna mais fácil e possível. Nosso poder de mudança está no relacionamento, na comunicação e nos diálogos. Refletir sobre essas questões, me fez compreender a importância da pluralidade. As crises que atravessaram a minha vida, atravessaram muitas outras. A diferença em se perceber e conseguir mudar os rumos da história a partir daí, é um dos caminhos que pode revolucionar os mundos; internamente e externamente. Sendo assim, eu diria que a autenticidade é a ponte para muitas mudanças. Sem a coragem de ser quem se é, não se pode avançar. É urgente conectar com nós mesmos e refletir sobre a diversidade que compõe a sociedade. Dentro e fora, na moda e na vida.