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BERTA CÁCERES: UM LEGADO DE LUTA E RESISTÊNCIA PELO MEIO AMBIENTE.

Berta Cáceres é uma inspiração para a minha existência. Ela foi uma grande ativista e líder indígena lenca. Nascida em, La Esperanza (Intibucá), comunidade indígena de Honduras. Mulher de garra, co-fundadora e coordenadora do Conselho de Populares e Organizações Indígenas de Honduras (COPINH). Ganhou o Prêmio Goldman de Meio Ambiente, em 2015, por uma campanha que, com sucesso, pressionou o maior construtor de barragens para retirar a Barragens Agua Zarca do sagrado rio Gualcarque. Quando conheci o trabalho de Berta, a admirei profundamente. Ela liderou campanhas em uma ampla variedade de questões, incluindo o protesto contra a extração ilegal de madeira, contra a plantação com recurso a escravos, e contra a presença de bases militares em território Lenca. Berta apoiou o feminismo, os direitos LGBTQi+, assim como outras inúmeras questões sociais.


Em 2006, um grupo de indígenas Lenca, do Río Blanco pediu a Cáceres para investigar a recente chegada de equipamentos de construção à sua área. Berta Cáceres investigou devidamente a situação e informou a comunidade de que um empreendimento conjunto entre a empresa Chinesa Sinohydro, o Banco Mundial's International Finance Corporation, e a Desarrollos Energéticos, S. A., empresa de Honduras, para a construção de uma série de quatro barragens hidrelétricas no rio Gualcarque.


Os responsáveis pelo projeto violaram um direito internacional ao não consultarem a população local durante o desenvolvimento do projeto. Deste modo, o povo Lenca estava preocupado que as barragens comprometessem o acesso a água, alimentos, materiais médicos e, portanto, ameaçassem o seu modo de vida tradicional. Cáceres trabalhou em conjunto com a comunidade para montar uma campanha de protesto. Ela organizou ações legais e reuniões com a comunidade contra o projeto, e levou o caso à Comissão interamericana de Direitos Humanos.


A Comissão Interamericana de Direitos Humanos incluiu "Bertha Cáceres" em 28 de junho de 2009, na lista de pessoas ameaçadas durante o golpe de estado hondurenho de 2009, por conta das ameaças que foram feitas contra ela. No dia seguinte, o IACH emitiu as chamadas "medidas cautelares (MC 196-09)" em defesa dela e de outros ativistas, tendo relatos de que as forças militares tinham cercado sua casa.


Em 2013, Bertha Cáceres disse à Al Jazeera:

"O exército tem uma lista de assassinatos de 18 lutadores pelos direitos humanos com meu nome no topo. Eu quero viver, há muitas coisas que eu ainda quero fazer neste mundo, mas eu nunca considerei desistir de lutar pelo nosso território, por uma vida com dignidade, porque a nossa luta é legítima. Eu tomo muitos cuidados, mas no final, neste país, onde há total impunidade, eu sou vulnerável... Quando eles quiserem me matar, eles vão fazer isso." Durante a campanha contra a barragem, Cáceres e outros organizadores eram frequentemente intimidados pelos militares. Em uma ocasião, eles foram parados e o seu veículo foi revistado. Enquanto viajavam para o Rio Blanco, Cáceres afirmou que, durante esta paragem, uma arma foi colocada no veículo; os organizadores foram presos por envolvimento no uso de armas e passaram a noite detidos na prisão. O tribunal colocou Cáceres sob medidas preventivas, forçando-a a entrar no tribunal, todas as semanas, impedindo, desta forma, que ela pudesse sair do país. As medidas foram mantidas em vigor até que o caso foi arquivado em fevereiro de 2014.


Os registos do tribunal a partir de 2014, divulgado em Maio de 2016, mostraram que "o governo e a DESA várias vezes catalogaram Cáceres e seus colegas como violentos, anarquistas que aterrorizavam a população por meio de seus protestos, [...] a usurpação, a coerção e danos contínuos e até mesmo a tentar enfraquecer a ordem democrática." Uma das expressões favoritas de Berta era "Eles estão com medo de nós porque não temos medo deles", de acordo com Gustavo Castro Soto.


Cáceres foi morta a tiro em sua casa por homens armados na noite de 2 de Março de 2016. O ativista mexicano e ambientalista Gustavo Castro Soto também foi ferido, com dois tiros, um na bochecha e outro na mão. Gustavo tinha chegado em La Esperanza um dia antes de uma reunião com 80 outras pessoas "para discutir alternativas para o projeto hidro-eléctrico ". Berta convidou-o para ficar hospedado em sua casa. Castro foi testemunha ocular do assassinato de Berta.


Sob as assim chamadas "medidas de precaução", recomendadas pela Comissão interamericana de Direitos Humanos, o governo de Honduras foi encarregado de proteger Cáceres. Porém, no dia da sua morte, ela não estava sob nenhuma proteção. O ministro de segurança hondurenho disse que ela não se encontrava no lugar que ela identificou como sua casa, pois se havia mudado recentemente para uma nova casa em La Esperanza.


Assim como outros casos de impunidades à morte de ambientalistas e lideranças indígenas, difamações e mentiras são frequentemente associadas aos fatos, na tentativa de deslegitimar a atuação militante desses lutadores. Assim como Castro, Aureliano Molina (membro da COPINH e companheiro de luta), também foram acusados de participação na morte de Berta. Depois das investigações, foram comprovadas e descartadas qualquer envolvimento de seus companheiros em sua morte.


Seu legado e história me emocionam muito. Berta nos deixa a lição de lutar com coragem para defender nossos direitos, territórios e dignidade humana. Mulheres que resistem como Cáceres, inspiram para sempre. Nunca morrem, tornam-se sementes. Através dessas existências, muitas outras mulheres firmam suas raízes e florescem nas lutas sociais. Viva Berta e todas mulheres indígenas desse continente Abya Yala!!!! Que sigamos em luta; contra o capitalismo, o patriarcado e o racismo! Texto por Dayana Molina.






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