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ABRIL INDÍGENA

O que chamam de dia de índio, em nada nos representa. E é bastante problemático por vários motivos. O termo índio por exemplo, não nos contempla. O certo é indígena; que significa originário da terra. Índio foi um apelido desrespeitoso dado pelos colonizadores. Além disso, crescemos acreditando que era super ok pintar crianças de tinta guache e colocar o cocar de papel em suas cabeças. Curioso que essa atitude desde o ensino básico, reafirma posturas coloniais, intensifica o racismo e apaga nossa verdadeira identidade.


Nesse mês da resistência indígena, precisamos compreender a concepção desse país e sua origem. O Brasil é um país originalmente indígena composto por uma riqueza cultural que poucos conhecem. Somos mais de 300 nações indígenas com hábitos e cultura diferentes; 274 línguas nativas. E crescemos como poucas referências e representatividade. Um país que invisibiliza, mata, oprime e excluí os originários de sua própria terra. Porque não precisamos de homenagens? Queremos respeito e a garantia dos direitos. Lutamos diariamente (não somente em um único dia), pela preservação da cultura, a autonomia dos povos, a pluralidade étnica e a diversidade social. Todo governo é transitório, mas os direitos sempre serão originários.


Acredito que é oportuno usar esse momento para dar visibilidade ao que verdadeiramente importa e aos corpos que resistem em diferentes contextos, recortes e atuações. O abril é vermelho. Para lembrarmos das injustiças, o sangue derramado na terra e justiça social tão emergente! Ser um aliado, significa abraçar as causas e os autores. Entender a importância de ouvir pessoas indígenas, consumir e aprender com pessoas indígenas. Descolonizar a moda, é só uma parcela de uma luta intensa e muito ampla na representatividade indígena. A representatividade ética é essencialmente importante. Embora enxergarmos a nossa estética, seja profundamente urgente no processo de auto estima e orgulho de quem somos.


Através do protagonismo indígena (em todos os âmbitos), nossa luta central é vista e ouvida de forma muito estratégica. E assim, podemos falar de temas relevantes e necessários como a demarcação de terras. Sem os territórios demarcados, sofremos constantes ameaças. Essa percepção, me faz compreender que o meu trabalho como estilista, não pode estar separado disso. Faz parte da minha identidade lutar e resistir. Todos os dias faço roupa pensando mais nas pessoas do que no design em si. Como posso contribuir para que as gerações que virão tenham mais alegria e dignidade? Quero continuar sonhando com futuros melhores e cheios de esperança. Agradeço profundamente quando me sinto acolhida nas iniciativas que abordo, no ativismo e a frente do empreendedorismo feminino. Mais do que nunca, a minha voz e de outros parentes, precisa ser ouvida e respeitada. Esse é só o começo de um tempo em que vamos falar por nós mesmos e ocupar os espaços que por tanto tempo nos foi negado. Descolonizar a moda, é uma ferramenta no empoderamento desse processo.


E sendo assim, garantir emprego e fonte de renda a outros indígenas que mergulham na produção dessa marca; feita, pensada, liderada e criada por pessoas em protagonismo. Isso é revolucionário. E me orgulho muito dessa jornada. Quando você faz sua compra consciente, você colabora para que a gente trabalhe dignamente com o que amamos. Por esse motivo, vista causas, propósitos e atitudes que transformam o mundo em um lugar melhor. Ainda que você comece apenas com uma roupa, é importante compreender que isso também ajuda nesse processo de luta e bem viver.

Texto escrito por Dayana Molina ~ @molina.ela Não é permitido reproduzir sem citar a fonte e autoria.

Arte colagem: Mavi Morais - Pinterest Modelo Indígena: Médica Myrian Krexu Guarani Mbya





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